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Sociedade

Um panorama sobre os maus-tratos aos animais

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Banco de Imagem pixabay.com
Com a sanção da PL 1095, em setembro deste ano, a pessoa que praticar maus-tratos a cães ou gatos pode ter a prisão decretada mesmo sendo réu primário. 
REPORTAGEM DE MARIAN CAPELINI
23/11/220, às 12:00 
O empresário Mateus Mafepi é protetor de animais desde os 10 anos de idade. Natural de São José do Rio Pardo, sempre esteve presente na causa animal e se preocupou em prestar socorros a animais machucados, abandonados e maltratados no local onde mora. É conhecido nas redes sociais por seus resgates e cuidados com cachorros, gatos, coelhos e outros espécies de animais.

As dificuldades nas horas de realizarem os resgates são nítidas. O protetor de animais explica que esse é um processo doloroso, pelo fato de que existe uma dificuldade para resgatar alguns animais, porque eles se escondem, têm medo e mordem e já sofreram demais. “Nenhum protetor consegue resgatar e cuidar de todos os animais que encontra, mas tentamos na maioria das vezes resgatar, encaminhar imediatamente a um veterinário que acredite na causa, que faça bom preço e preferencialmente seja voluntário nesse cuidado de consulta, exame e castração do animal”, completa Mafepi.

Mafepi conta que existem vários outros tipos de resgates, que representam uma luta diária na vida dos protetores. Ele relembra um resgate que fez há dois anos, quando alguém ligou em seu celular falando que havia um cachorro abandonado em uma via pública em São José dos Pinhais. Ao chegar ao local, viu o animal fraco, com o esqueleto aparecendo e uma marca de corrente muito forte no pescoço - provavelmente ficou preso por muito tempo em algum lugar, sem comida e sem água, dava para ver pela aparente desnutrição. Ele fala que logo após o resgate levou o animal ao veterinário, e depois de serem feitos vários exames, foi constatado que ele estava com a doença do carrapato, e então foi realizado o tratamento necessário para que ganhasse peso e foi curado da doença.  
Logo após a sua recuperação, Mafepi levou o animal para sua casa, colocou o nome de Baghera e hoje está forte e recuperado. “O Baghera foi abandonado para morrer, mas renasceu novamente na nossa família.” 

O protetor também relembra um resgate muito arriscado, quando ajudou uma gata com seus filhotes dentro do forro de uma casa que estava prestes a desabar. Ele fala que não podia desistir daquele resgate, com seus 20 anos de militância não deixaria os gatos sem assistência. 
Mafepi ressalta a esperança que tem em relação às leis contra os maus-tratos aos animais, fala da importância, zelo e da proteção que tem. “A causa animal para mim é minha segunda vida, a primeira é aquela que vivo com meus pais que já são idosos e me ajudam na proteção e acolhimento dos animais. Foi na causa animal que eu adquiri os valores que tenho, que me tornei esse homem adulto que sabe o que quer e principalmente o que fazer para acabar com essa prática odiosa dos maus-tratos”, conclui o protetor.
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Imagem Matheus Mafepi/ Arquivo Pessoal 
Imagem Matheus Mafepi/ Arquivo Pessoal 
Baguera com o esqueleto aparecendo no dia em que foi resgatado por Matheus Mafepi.
Matheus Mafepi com Baguera.
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O protetor de pitbulls vítima de rinhas  
O empresário Alexandre Desco, 47, é protetor de cachorros da raça pitbull há 10 anos e conta que o resgate mais marcante que realizou foi o primeiro, aquele que deu mais vontade de seguir em frente, foi quando socorreu o Guerreiro, cachorro que estava em condições precárias, havia sido esfaqueado, além de estar amarrado, sem dentes e pesando 12 kg no momento em que foi resgatado dos maus-tratos.

Desco já resgatou mais de 300 cachorros e fez a doação de 250 animais, o seu amor pelos cães vem de infância, para ele a causa animal significa defender e honrar aqueles que não sabem falar e que não podem pedir ajuda, ele ressalta a sua confiança em relação a aprovação de novas leis  voltadas para a causa animal e a certeza de punições para quem maltrata. 

O protetor realiza um trabalho chamado Pit”s Ales aonde se dedica aos resgates e tratamentos de cachorros da raça pitbull, ele diz que depois de serem resgatados os animais passam por procedimentos veterinários adequados, são vacinados, depois são castrados e colocados de volta a socialização. 
Em dezembro do ano passado, a Polícia Civil do Paraná em parceria com o Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania de São Paulo prendeu 40 pessoas que participavam de uma rinha internacional de cães da raça pitbull na cidade de Mairiporã, em São Paulo. 

Os competidores traziam os seus próprios cães para brigar em uma arena improvisada, todos da raça pitbull, na hora das prisões muitos animais estavam mortos.     

Desco resgatou parte dos 19 pitbulls que participavam das rinhas, em suas redes sociais pediu lares temporários, ajudas para adoções e fez uma Vakinha online para ajuda financeira nos tratamentos dos animais debilitados. “A internet é muito importante nos casos de maus-tratos porque traz visibilidade para a causa e consequentemente traz ajuda financeira e é fácil encontrar adotantes para os animais.”  
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Imagem: Alexandre Desco/Arquivo Pessoal 
Protetor de animais Alexandre Desco com cachorros que foram resgatados de maus-tratos.
O papel dos projetos e das Ongs 
O mesmo acontece com protetores que se juntam e criam projetos, alguns são classificados como Organizações Não-Governamentais (ONGs), da mesma forma resgatam e tratam os animais para depois colocá-los para adoção.

Há três anos, Damaris Martins de Godoi,50, é coordenadora de um grupo de voluntários da defesa da causa animal através do projeto SOS Bicharada localizado na zona leste de São Paulo. Ela conta que o início do projeto foi através de um resgate difícil, de uma cadela sem raça definida que avistou quando seguia para seu trabalho na zona sul de São Paulo. Ela explica que a cadela estava muito magra, com doença de pele, queda expressiva de pelos e com muitas feridas pelo corpo, relata que seria impossível continuar seu dia sem prestar socorro para a cadelinha.

Ela chamou uma amiga que morava próximo ao local e levaram o animal para o veterinário, teve o tratamento terapêutico adequado e logo após foi levada para um lar temporário onde ficou por 5 meses até ser adotada por uma família. Depois de um certo tempo descobriram que o nome da cachorrinha era Juli, o dono havia se mudado e largou a cadela a própria sorte abandonada na rua. 

Hoje o projeto conta com 90 ativistas que atendem toda a cidade de São Paulo, eles firmaram parceria com veterinários que cobram valores simbólicos nas castrações e já mudaram a vida de 3 mil animais. “Não medimos esforços para conscientizar sobre ter e manter animais seguros, saudáveis e protegidos”, completa a coordenadora do SOS Bicharada.

As iniciativas e os projetos acontecem de maneira diversificada. A SOS Bicharada, por exemplo, fez parceria com alguns veterinários que cobram um valor de custo para ajudar nas castrações, além disso realizam bazares para arrecadar recursos financeiros, participam de mutirões de castrações promovidos pela Polícia Militar de São Paulo, realizam palestras educativas sobre a defesa da causa animal em escolas e têm todo o seu trabalho divulgado nas redes sociais. 
As adoções são feitas após a assinatura de um termo de posse responsável e monitoramento do animal. 
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Imagem Damaris/Arquivo Pessoal
Juli quando foi resgatada de maus-tratos pelo projeto SOS Bicharada.
Juli depois do tratamento feito pela SOS Bicharada.
Imagem Damaris/Arquivo Pessoal
Antes
Depois
A aeronauta Eveline Dantas é responsável pelo projeto Resgatinhos que é voltado aos resgates e tratamentos de gatos vítimas de abandonos e maus-tratos, ela conta que resgata animais há 9 anos, que começou pegando um gato, depois dois, três, quatro, quando viu já estava com mais de 10. “Tive a consciência que não podia ficar com todos, e então comecei a resgatar, castrar, vermifugar, e colocar para adoção”, relembra. 

Eveline explica que primeiro leva o animal para o veterinário, dá banho, aplica remédios para vermes e pulgas, depois o gato vai para uma quarentena para evitar a proliferação de pulgas e doenças nos outros animais. Ela fala que esse período varia de 48 a 72 horas, só depois desses cuidados que se inicia o processo de socialização. A aeronauta fala de sua expectativa em relação ao reconhecimento da causa animal: “a minha expectativa é que em um futuro muito próximo as leis sejam mais duras e tratadas de forma mais séria, já que os animais no nosso país são tratados como coisas e não como seres vivos que sentem frio, fome, medo e dor”. 
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Imagem Unsplash.com/David Nieto
No Projeto Resgatinhos os gatos resgatados ficam de quarentena por até 72 horas e só depois inicia o processo de socialização. 
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Imagem Eveline Dantas/ Arquivo Pessoal 
Há 9 anos Eveline Dantas mantém sozinha o Projeto Resgatinhos. 
Terapias integrativas na recuperação dos animais
Bárbara Pudles, fundadora do Projeto Pet Amor Proteção, é terapeuta holística e sistêmica para animais e usa isso no tratamento dos animais antes de serem colocados para adoção. 

Ela conta que eles trabalham com muitas terapias integrativas e isso ajuda o animal a se recuperar dos traumas. Quando um animal chega de uma situação de abandono, ou que tenha sofrido violência, ele está com seu emocional abalado, então os veterinários entram com esses tipos de terapias integrativas para que o animal se fortaleça.

Segundo Bárbara, as terapias holísticas enxergam o animal como um todo, fazem com que eles tenham uma tranquila recuperação emocional e a diminuição dos traumas sofridos no período em que foram maltratados. Ela ressalta que as terapias ajudam tanto na recuperação desses traumas, quanto na prevenção e tratamento de doenças. São combinadas com veterinários parceiros que também usam essas técnicas holísticas.

A acupuntura é um tipo de terapia alternativa que ajuda cães e gatos de diversas formas, ela pode contribuir para o tratamento de problemas de pele, problemas pulmonares, problemas neurológicos, doenças respiratórias, problemas gastrointestinais, viroses, distúrbios endócrinos e outros. A terapeuta diz que todos os tipos de terapias holísticas sistêmicas devem ser combinados com o tratamento tradicional.

O tratamento de florais é feito com a essência das flores, eles auxiliam nos quadros depressivos e acalmam cachorros hiperativos. Além disso também auxiliam a diminuir a teimosia, amenizam o medo de fogos, regulam a ansiedade e diminuem o sentimento de carência. 

O Reiki foi criado no Japão e o especialista tem como missão reestabelecer o equilíbrio emocional, mental e físico do animal. Com o objetivo de canalizar as energias vitais, ainda proporciona o conforto emocional e melhora os efeitos colaterais de outros tratamentos. Isso porque o terapeuta alinha os centros de energia do corpo, os tradicionais “chakras”, promovendo o equilíbrio energético. 

Segundo Bárbara, apesar dos tratamentos e das terapias, existem animais que não querem sair de lá para serem adotados e estão com ela até hoje. 
No projeto Pet Amor Proteção houve o recorde de adoções na pandemia. Bárbara reitera que como terapeuta holística, ela e as 9 mulheres do projeto Pet Amor Proteção têm como missão olhar para os animais excluídos, mostrar que eles merecem um lugar na sociedade “A causa animal é o que nos impulsiona, o que nos traz vida e que nos faz correr atrás das coisas, somos todos almas procurando dar o nosso melhor.” 

Além de terapeuta holística, Bárbara também é protetora e em seu projeto Pet Amor Proteção já realizou diversos resgates, ela conta que alguns foram mais marcantes, como o do Churros, cachorro resgatado de maus-tratos na rua. “Ele me mordeu três vezes e eu fiquei mais de três horas para pegar ele, só consegui pegar com um pedaço de bacon, ele era muito bravo, foi fechado dentro do porta-malas do carro, e eu fiquei torcendo para ele não pular e me morder, e hoje não tem um que não chegue perto dele e ele não faça xixi de felicidade.”

Apesar dos tratamentos diferenciados, como a terapia holística sistêmica, o atendimento tradicional de veterinários não é dispensado, é sempre o mais seguro. 
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Imagem Bárbara Pudles/ Arquivo Pessoal 
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Imagem Bárbara Pudles/ Arquivo Pessoal 
Athena foi devolvida quatro vezes e adotada pela protetora Bárbara Pudles do projeto Pet Amor Proteção.
Bárbara Pudles e Churros.
O projeto Abrigo Escola foi fundado por Esdras Andrade, 24, protetor de animais de São José dos Campos, interior da cidade de São Paulo. Com 14 anos, ele notou que havia dificuldades para doar cachorros sem raça definida, e percebeu que na maioria das vezes isso acontecia pelo fato de os animais não serem adestrados, já serem sofridos, alguns já moravam nas ruas fugindo das maldades e com isso acarretaria distúrbios comportamentais. 

A ideia foi de acrescentar o adestramento como uma solução, até mesmo para os tutores que adotavam os animais, mas não tinham condições financeiras ou tempo livre para adestrar o seu cão, o projeto se expandiu e hoje além do adestramento, eles tem como principal objetivo tirar os animais das ruas, tratá-los e encaminhá-los para uma nova casa. 

Isso fez com que o índice de adoção aumentasse e o nível de devolução diminuísse. “O ato da adoção é muito nobre, vai muito mais além do que simplesmente retirar um animal da rua e colocar no quintal. É olhar através, é entender que podemos fazer o bem para outro ser além de nós mesmos, é ser a voz de quem não pode falar por si só, é ter companhia fiel, é um gesto de amor! Adote você também!”, conclui Esdras. 
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Mayara Ramos/ A Imaginativa 
O Protetor acrescentou o adestramento como uma das técnicas de tratamento dos animais resgatados no Projeto Abrigo Escola.
Mayara Ramos/ A Imaginativa 
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Cachorros resgatados de maus-tratos no Projeto Abrigo Escola.

A população de animais no Brasil é a maior do mundo, ficando apenas atrás da China e dos Estados Unidos. A voluntária Yasmin Jacob, 24, conta que o projeto “Aumigos do Bem” foi criado em 2016 através da união de duas protetoras que se conheceram através de outros projetos e desde lá ajudam e recolhem animais em situações de abandonos e de maus-tratos na cidade de São Paulo.

A diferença no projeto “Aumigos do Bem” é que elas não realizam feiras de adoções, para a voluntária é muito estressante para os animais ficarem expostos naqueles cercados. 
O projeto depende de doações pela internet, e através de lá conseguem custear o tratamento e divulgação dos animais.  

Yasmin relembra o resgate do Napoleão, que foi achado caído numa rua quase morto, tinha cinomose, estava magro e fraco, ela conta que algumas clinicas deram a opção de fazer a eutanásia, mas as voluntárias não desistiram, conseguiram uma veterinária que fez a tratamento e o Napoleão foi curado, por isso, para a voluntária a cinomose é um assunto muito difícil de falar. “Muitas pessoas acham que não tem cura, muitos médicos negligentes acabam sugerindo a morte do animal, mas cinomose tem cura sim, o Napoleão e tantos outros animais que passaram por nossas vidas provam isso.” 
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Imagem Aumigos do Bem/ Arquivo pessoal 
Marina e Sthepanie fundadoras do projeto Aumigos do bem com Napoleão.
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Imagem Aumigos do bem/ Arquivo pessoal 
Napoleão foi curado da cinomose pelo projeto Aumigos do bem.
Denúncias de abandono e maus-tratos aumentam na pandemia
O acesso das pessoas a celulares e plataformas midiáticas facilita as denúncias e publicações relacionadas ao abandono e aos maus-tratos aos animais que estão se tornando cada vez mais rotineiras. 

Da mesma forma, uma pesquisa realizada pelo Instituto Pet Brasil mostra que existem 3,9 milhões de animais em situação de vulnerabilidade no Brasil, a maioria são cães e gatos, a pesquisa também aponta que a população de animais no país é de cerca de 40 milhões , entre cães, gatos, peixes, aves, répteis e pequenos mamíferos.

Mesmo com tantas campanhas sendo feitas, os casos de abandonos e maus-tratos aos animais é um grande problema enfrentado por ativistas da causa, protetores e Ongs e se tornaram agravantes durante a pandemia do Covid-19.

No Brasil, as medidas protetivas para os animais surgiram em 1934, quando houve a edição do Decreto nº 24.645, no Artigo 3° que estabelecia o que era considerado como “maus-tratos”. 
A edição na Lei de Contravenções Penais ocorreu em 1941, e no seu artigo 64 caracterizou a prática de crueldade contra os animais como contravenção penal. 

Em 1998, foi criada a Lei Dos Crimes Ambientais, nº 9.605, na lei foi estabelecida sanções penais e administrativas contra as violações do meio ambientes e contra os maus-tratos aos animais. O Artigo 32 diz: Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. Pena de detenção, de três meses a um ano, e multa.  

No dia 30 de setembro, o Presidente da República sancionou uma lei, onde ocorreu uma alteração no Artigo 32, da Lei nº 9.605, que aumenta as penas de 2 a 5 anos de reclusão para quem cometer crimes de maus-tratos a cães e gatos.
 A nova lei recebeu o nome de “Lei Sansão” que faz referência ao cachorro da raça pitbull que teve suas patas traseiras decepadas no mês de julho e causou grande comoção de protetores e da população em geral. 
Anteriormente, era considerado de menor potencial ofensivo sendo a pena de detenção e não de reclusão para quem maltratasse esses animais domésticos. A pessoa que cometer esse tipo de delito não vai ter a opção de se defender no Ministério Público mesmo se for réu primário. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há mais de 30 milhões de animais abandonados no Brasil, entre cães e gatos. 

Um levantamento feito por ONGs da causa animal mostra um aumento de mais de 20% nos índices de denúncias de maus-tratos aos animais durante a pandemia. Foram mais de 10 mil denúncias de maus-tratos a animais entre janeiro e setembro em todo o estado de São Paulo, representando um aumento de 21% em relação ao mesmo período do ano passado. A situação se repete em todo o país, de acordo com a comissão de defesa animal da OAB. 

A quantidade de campanhas contra o abandono e os maus-tratos aos animais não é suficiente diante desses números crescentes de denúncias. 
A médica veterinária Isabela Esteves Campos, 24, trabalha no Hospital veterinário Animaniac’s e fala que um dos motivos do aumento dos abandonos na pandemia foi devido às fake news sobre a transmissão do vírus Covid-19. “No início da pandemia não sabíamos muito sobre as formas de transmissão do vírus e quais eram os possíveis vetores, muitas pessoas confundiram o coronavírus com canino, que é específico para cachorros, assim como o coronavírus felino, que também é específico para gatos e erroneamente se sentiram ameaçados com a possibilidade de se infectarem através de cães e gatos,” explica Isabela. 

De acordo com a veterinária, com o passar da pandemia, surgiram boatos de que o Covid-19 poderia infectar cães e gatos, mas que até o momento não tem comprovação de que exista essa transmissão de seres humanos para animais de estimação. 

Isabela Esteves ressalta que os animais que já foram domiciliados correm riscos relacionados a nutrição, já que não são capazes de conseguir o próprio alimento nas ruas, e quando são capazes podem desenvolver doenças gastrointestinais, já que os restos são provenientes dos lixos urbanos e impróprios para o consumo. Junto com esses alimentos podem ser ingeridos objetos como ossos e embalagens que acabam se tornando corpos estranhos após a ingestão. “Uma outra preocupação são os atropelamentos, já que os animais não estão acostumados com hábitos de vida livres, também estão expostos a contrair doenças infecciosas e doenças de pele que podem se agravar, assim diminuindo a expectativa de vida e levando o animal a óbito”, conclui a veterinária.
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Créditos/Canva/Maíra Capelini
Infográfico informativo
As adoções dos animais maltratados 
Muitos simpatizantes da causa animal também têm histórias que merecem ser contadas. Alguns, além de realizarem resgates, também adotaram animais vítimas do abandono e dos maus-tratos. 

A aposentada Norma Soeli, 66, fala que um dos primeiros resgates que realizou foi de uma cadela que estava atravessando ruas movimentadas em um dia frio e chuvoso, estava muito magra. Ela conta que levou o animal para casa, cuidou e logo depois levou ao veterinário, onde foi castrada e ganhou o nome de Brigite, hoje é feliz e saudável em sua casa. 

Além de Brigite, a aposentada tem mais 4 cachorros, dois resgatados de maus-tratos e os outros dois doados por falta de espaço. 

Soeli fala que o outro animal vítima de maus-tratos é o Tupã, cachorro da raça pastor alemão, que vivia em uma casa com mais 161 animais. Ela explica que a ex-tutora era acumuladora de animais, os cães viviam em um espaço pequeno e sem os cuidados necessários. “Ela dava massa de pastel vencida, ossos e o trigo, que fazem mal para o animal. Ele veio com infecção no intestino, levei no veterinário, fez uma cirurgia e teve que ficar tomando antibiótico.” 

Hoje, Tupã foi adestrado, vai precisar fazer outra cirurgia, mas agora é um cachorro feliz e saudável. 
A aposentada ressalta a importância da internet nos casos de abandonos e de maus-tratos. “Através da internet, a gente pode ficar sabendo que as pessoas maltratam, mas por outro lado que também existem as pessoas de bom coração que os recolhem, tratam e que oferecem novos lares. O Tupã foi um desses sortudos, tem nove anos e agora é lindo e saudável.” 

A coordenadora pedagógica Ana Paula Gibim, 30, adotou a Mel há 12 anos quando seu esposo soube pela sua tia que havia uma cadela vira-lata que ficava presa debaixo de uma escada na área externa de uma casa sem cobertura, tomava sol e chuva, sem alimentação adequada. Uma das vizinhas costumava oferecer ração, mas não havia nenhuma assistência por parte dos tutores, que diziam que se não conseguissem doá-la, iriam soltá-la na rua. “Meu marido perguntou se podia trazer para minha mãe cuidar, como lar temporário por um tempo. Ele pegou a cachorrinha, deu um banho e nos trouxe, ela estava bem magra, cheia de nós na pelagem e bem afoita”, explica a pedagoga. 

Ana Paula conta que tem mais dois cachorros que também foram doados por pessoas que acumulavam animais em suas casas. A pedagoga ressalta que algumas conquistas foram alcançadas em relação aos animais, mas que ainda precisa de muito mais em relação ao poder público. “A consciência humana com relação aos direitos dos animais evoluiu bastante, ações não governamentais têm sido criadas, contudo é preciso mais intervenção do poder público e investimento no debate e garantia dos direitos de todos os animais, e não só os domésticos”, finaliza. 
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Imagem Paula Gomes/Arquivo Pessoal 
Paula Gomes e Mel.

Vamos conhecer histórias de pessoas que ofereceram uma nova vida a animais que sofreram maus-tratos?

É só dar um play no nosso Podcast!! 

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